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USP e religião: quando há coexistência harmônica

Ser aprovado no vestibular da USP exige fé, ainda que seja em si mesmo. Mas e para continuar na maior universidade da América Latina? Estar longe dos pais, dar início à vida adulta, enfrentar a pressão de conquistar boas notas e começar a trabalhar são partes do pacote de mudanças vivenciadas diariamente por muitos alunos dessa faculdade. Em meio a tantas questões, ser adepto a uma religião tem sido a rota de fuga para parcela dos estudantes.

Coletivos cristãos

Centenas de pessoas participam ativamente de grupos relacionados ao cristianismo, como os de estudos bíblicos, que funcionam de forma independente na USP. Basicamente, os alunos se reúnem continuamente para praticar a religião, sem que a Universidade de São Paulo seja responsável pelo evento.

Camily, estudante da Escola Politécnica (POLI-USP), participa de um desses movimentos. Para ela, “os encontros são bons momentos de comunhão, porque compartilhamos nossas dificuldades na universidade e vida pessoal. Além disso, oramos e aconselhamos uns aos outros”. O grupo não se restringe à prática religiosa, uma vez que os integrantes também ajudam uns aos outros nas atividades acadêmicas.

O coletivo do qual ela faz parte é a Aliança Bíblica Universitária (ABU), um movimento cristão estudantil interdenominacional, ou seja, não pertence a uma igreja específica e, por isso, integra pessoas de diferentes segmentos da religião evangélica. “Os próprios alunos tocam o movimento, pois não possuímos um pastor ou uma liderança eclesiástica”, afirma Camily. A ABU está presente em diferentes faculdades do Brasil, inclusive em outros institutos da Universidade de São Paulo.

“Não é sobre religião como um grupo de regras a serem cumpridas”, explica a estudante. E completa: “as conversas com meus amigos sobre a bíblia nas reuniões semanais não evitam chorar por causa das reprovações, nem impede passar pelas crises e estresses da vida universitária, mas ajudam a lembrar que existe algo mais importante do que as nossas dores e, consequentemente, a lidar com as transformações dessa fase da vida”.

Na Poli, 20 pessoas participam do coletivo, mas os estágios e a divergência dos horários de aula afastam alguns deles das reuniões, que acontecem duas vezes por semana - às segundas para estudos bíblicos e às quintas para reuniões de oração, das 11h da manhã às 13h da tarde. Ainda assim, quem não consegue ir aos encontros é ativo e ajuda as lideranças da ABU.

Ao redor da USP

Nem sempre o contato com a religião acontece dentro da universidade, especialmente quando se trata de práticas não pertencentes à doutrina cristã, dado que existe uma presença maior de grupos deste princípio. Nesse caso, os alunos recorrem a alternativas próximas à cidade universitária.

Os adeptos da umbanda, por exemplo, encontram o Templo de Umbanda Caboclo Pena Verde na rua Corinto, 390; Templo Espirita de Umbanda – Caboclo Sete Flechas na Av. Otacílio Tomanik, 627; Núcleo de Culto Umbandista do Butantã na Av. Eliseu de Almeida, 1251.

Quem procura por um centro espírita tem à disposição as seguintes opções: GEFCX – Grupo Espírita Francisco Cândido Xavier na rua Martinho Claro, 306; Centro Espírita Casa de Auta de Souza; na rua Nicolau Pereira Lima, 261; Grupo Espírita De Apoio Luz Do Amor na Av. Eng. Heitor Antônio Eiras Garcia, 1328.

Os praticantes do budismo têm acesso ao Centro Nyingma do Brasil na Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 224; Centro de Dharma da Paz na Rua Apinajés, 1861; Centro de Meditação Kadampa Mahabodhi na Av. Brg. Faria Lima, 1478 – sala 2212.

Vale pontuar que não só existem alternativas aos locais citados acima, como também há opções disponíveis para outras religiões, como o candomblé, o hinduísmo, entre outras.

Quando religião vira estudo

A Universidade de São Paulo é uma instituição laica, mas existe uma série de conhecimentos sobre religião sendo produzidos nela. A explicação para isso é que há uma busca pela compreensão de fenômenos culturais e pela identificação de fatos sociais atrelados a contextos religiosos.

Nem sempre os estudos são focados em religião, como é o caso do Centro de Estudos Judaicos, que, em nota, explica: “nós atuamos como centro catalisador e ponto de referência para alunos e professores de outras instituições acadêmicas de São Paulo e de outros estados brasileiros. Também atendemos a jornalistas e autores em busca de informações sobre cultura judaica e Israel.”

O Centro é vinculado à USP e localizado no prédio de Letras, o CEJ, o qual é atrelado ao Programa de Graduação e Pós-Graduação da área de Hebraico. “Nós atuamos como órgão aglutinador das várias atividades de ensino e pesquisa, direcionados à transmissão de uma mensagem: a riqueza da cultura judaica, de sua história, de seu conteúdo moral e ético e sua participação medular na formação da civilização ocidental.

Existem grupos de estudos que pretendem entender as religiões e sua influência na sociedade, e compõem as pesquisas da humanidades. Aqui, há um entendimento de que as religiões podem fazer parte da vida dos alunos, das pesquisas produzidas no campus e dos lugares próximos à ele, mas não devem ditar as práticas da universidade pois ela produz conhecimento científico.

 

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